12 de novembro de 2008

Parapeito


Gosto de me empuleirar no parapeito da janela da sala, fico encostada, descalça. sinto-me numa fronteira qualquer entre o estar/não estar. nao, nao tenho o mar do outro lado, nem uma montanha imponente, nem sequer uma vista resplandecente da cidade, é so um predio horrivel cor de tijolo gasto, feio, sem janelas e portadas dignas de Bologna. Vejo os carros e as motas e as bicicletas, ou continuam ou páram no semáforo. às vezes nao se apercebem e eu posso olhar muito as pessoas; às vezes olham para cima e sorriem ou abanam a cabeça, às vezes metem-se comigo e inicia-se uma conversa de malucos enquanto estão parados no semáforo, primeiro porque eu tou cá em cima e eles la em baixo e nao consigo ouvir muita coisa,depois porque o meu italiano gritado é uma mistura de dialectos imperceptíveis. pode estar frio la fora, mas não importa. também olho pra dentro, neste lugar posso-me mover rapidamente entre o estar/não estar. dentro de casa eles continuam a falar, participo, agora já nao, viajei. gosto do círculo que se forma no lado de dentro da sala, gosto dos olhares e dos gestos, gosto de os observar na elegância coreográfica das conversas, são as mãos, os lábios, abstraio-me do som, oiço melhor os corpos. as vozes de dentro ecoam lá fora, nao me apercebi. podia ficar ali horas como pêndulo a oscilar entre um interior/exterior. depois deixo este corredor hibrido e já faço parte do circulo à volta da mesa e participo nessa dança que nao acaba nunca.

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